ENTREVISTA
Dr. Domingos Santos
RMD Julho 2024

Dr. Domingos Santos
Transmontano de Talhas, Macedo de CavaleirosDireção da Associação de Futebol do Porto (AFP). Ex-Secretário Geral e atual Vice-Presidente da Direção
Há quase 50 anos que serve a AFP. Que extraordinária dedicação, não é?
Desde que fui admitido na Associação, em 1975, então como funcionário do Conselho de Arbitragem, sempre coloquei os interesses da Associação em primeiro lugar, por vezes até com prejuízo da minha família que sempre me apoiou nesta missão. Sim, coloquei nestes quase 50 anos todo o meu empenho, paixão e dedicação.
É conhecido como sendo uma pessoa discreta e afável para com todos. São esses os seus segredos que o fazem um bom profissional?
Sou uma pessoa simples e procuro ser educado com todos. Acredito que o respeito pelos outros e a entreajuda devem nortear a nossa vida. Por isso sempre procurei ajudar os clubes e os seus agentes desportivos a ultrapassarem os seus problemas para que possam superar as suas difíceis tarefas. Essa superação era e é o meu regozijo.
De que modo a AFP tem apoiado os clubes na perspetiva médica?
A saúde e o bem-estar sempre foram apanágio da AFP. Por isso, desde 1929, que a Associação teve Serviço de Apoio Médico, coordenado graciosamente durante 45 anos pelo Dr. José F. R. Braga, que consultava os jovens jogadores que iam disputar os campeonatos (existem até interessantes registos dessa atividade no Relatório e Contas da AFPorto, 1973/74). Nessa senda, sempre se exigia aos clubes que se filiavam pela primeira vez que contratassem médico, fazendo prova documental e entregando cópia da ata da reunião de direção do clube que garantisse o apoio e vigilância dos atletas. Por outro lado, a AFP diligenciava para assistência para prestarem apoio durante os treinos/jogos. Hoje, felizmente, os imperativos normativos estão muito atentos a este aspeto e a AFP continua intransigente na defesa desses valores fundamentais.
E a formação nesta área? Tem havido cursos para massagistas e fisioterapeutas, por exemplo?
Sem dúvida. Uma das principais preocupações das sucessivas direções da AFP sempre foi, e continua a ser, a realização de ações de formação que assegurem apoio socorrista nos treinos e jogos aos atletas dos seus clubes de futebol e futsal. Nenhum jogo se pode realizar sem a presença de um deles. Neste e noutros capítulos desta área continua a evoluir-se muito. Até à década de oitenta/noventa existia na AFP um fundo de financiamento que garantia Gabinete Médico de recuperação dos atletas que se lesionavam nos jogos, sendo que, para o efeito, o árbitro, a pedido do delegado do clube, tinha de fazer constar do seu relatório do jogo a inaptidão do jogador.
Pode dar algum testemunho dessa evolução?
Claro. Nos últimos 6/7 anos houve um enorme desenvolvimento decorrente da certificação dos clubes exigida pela FPF e levada a cabo pelas Associações. É um extraordinário salto qualitativo para os clubes que queiram participar em cada escalão (4 aos 19 anos). A obrigatoriedade de certificação abarca várias áreas desportivas do futebol e futsal. E, no processo de certificação, um dos critérios a ter em conta na avaliação das entidades formadoras de futebol e futsal é precisamente o acompanhamento médico-desportivo, que enfatiza a importância de cuidados médicos e de saúde para os atletas em formação. Assim se garante que recebem o suporte necessário para a sua saúde física e bem-estar durante o treino e competição. Na ponderação deste critério tomam-se em conta aspetos como a presença de profissionais médicos qualificados, os protocolos de avaliação médica, a prevenção de lesões e os planos de recuperação. Ser atribuída a certificação de 3 a 5 estrelas. E mesmo para o nível inicial da certificação (CBFF) é obrigatório ter técnicos com Suporte Básico de Vida.
Certamente que está entusiasmado com a construção do Centro de Formação da AFP. Como está a ser implementada a assistência médica?
A construção do nosso Centro de Formação será uma magnífica infraestrutura de grande valia para a zona Metropolitana do Porto e distrito do Porto. Há que felicitar o Presidente José Neves pelo arrojo e sucesso do passo que deu após tantos os que sonharam e tentaram. No Centro um dos objetivos primordiais é a saúde e bem-estar e, como tal, a assistência médica será um dos aspetos a ter em conta desde a sua conceção. Estamos convictos que dentro de pouco tempo o projeto será concretizado.
Ao longo de todos estes anos viu a evolução do apoio médico ao futebolista. Tem evoluído bem?
Não tem comparação possível. Os meios são outros. Há mais médicos. As exigências são maiores. Assim, desde a década de sessenta que se exige exame médico-desportivo, sem o que não é possível a inscrição de atleta. Na década de oitenta foram instalados Centros de Medicina Desportiva em Penafiel e em Vila do Conde, permitindo que, ao fim do dia, os atletas realizassem o seu exame médico desportivo por médicos especialistas do desporto. Hoje desses Centros de Medicina Desportiva apenas existe o do Porto.
Aos 72 anos de idade, o que lhe falta fazer?
Não vejo a idade como um obstáculo, antes como sinal de maior experiência e sensibilidade. Espero que Deus ainda me conceda muitos e saudáveis anos para que continue a manter entusiasmo pelo desporto, em especial pelo futebol e futsal. Estarei onde puder ser útil. Como sempre de forma disponível e discreta.
BIBLIOGRAFIA
- www.indexrmp.pt
- Ver Entrevista na edição desta revista 2024, 14(4).