ENTREVISTA

Dra. Susana Santos

RMD Maio 2024

Dra. Susana Santos

Especialista em Medicina Física e ReabilitaçãoHealth & Performance Department do Sport Lisboa e Benfica.
Lisboa

Após uma boa carreira como praticante de basquetebol temos agora uma médica muito empenhada na medicina desportiva. De onde vem esta paixão?

Sempre fui desportista, joguei basquetebol vários anos e experimentei diferentes lesões, algumas graves, na minha prática desportiva. Por isso, fiquei familiarizada com esta área desde cedo. Para além disso, fascina-me o exercício físico como uma arma terapêutica eficaz em muitas patologias da saúde.

Por outro lado, ser especialista em Medicina Física e Reabilitação (MFR) é uma mais-valia para os atletas, não é?

Sim, de facto o especialista em MFR consegue ir facilmente ao encontro das necessidades da saúde do atleta por incorporar uma visão holística do doente / atleta, com um foco muito específico na reabilitação e recuperação funcional, nunca descurando o diagnóstico, o tratamento e a prevenção de lesões (primária e secundária). Os médicos fisiatras têm um entendimento vasto das técnicas cinesiológicas e dos agentes físicos, fundamentais para a reabilitação da lesão não cirúrgica e pós-cirúrgica. Isto significa que temos a possibilidade de facultar e partilhar com os fisioterapeutas orientações precisas e tratamento adequado para cada atleta através de uma linguagem comum, garantindo a reabilitação eficaz e completa.

Neste momento trabalha num grande clube desportivo. Quais têm sido as suas funções?

Eu trabalho como médica no Health & Performance Department do Sport Lisboa e Benfica há cerca de três anos. Realizo uma parte assistencial na Clínica Benfica, situada no Estádio da Luz, onde faço consultas para as modalidades e escalões, excetuando futebol sénior masculino. Sou também médica responsável pela equipas de basquetebol feminino, futsal feminino e pelo Projecto Olímpico Benfica. Este último engloba dezenas de atletas já apurados para os jogos olímpicos, de diferentes modalidades individuais (atletismo, judo, canoagem, natação). Neste apoio médico inclui-se a permanente comunicação / orientação com treinadores e com a equipa multidisciplinar de profissionais atribuída a cada modalidade, constituída por fisioterapeuta, nutricionista, fisiologista e enfermeiro.

É certamente um grande desafio…

É um super desafio. O volume de trabalho é enorme e conciliar este trabalho extremamente gratificante, mas absorvente, com uma vida familiar, com três filhos pequenos, é por vezes uma dificuldade extrema. No entanto, o contacto com atletas talentosos de diferentes desportos, com uma diversidade tão grande de patologias, é muito estimulante e enriquecedor. Adicionalmente, a partilha de conhecimento e discussão de casos com uma equipa de vários médicos fantásticos, de diferentes especialidades, também apaixonados pelo desporto proporciona um crescimento profissional muito grande

Mas também teve uma boa experiência na Federação Portuguesa de Basquetebol…

Sim, foi experiência muito positiva. Fui médica responsável da Selecção Nacional de Seniores Femininas e do Centro Alto rendimento de Vagos/Calvão onde residiam as seleções nacionais femininas sub-16 e sub-15. Foi há varios anos e apesar de na altura trabalhar no Centro de Medicina Desportiva de Coimbra e ser médica responsável pelo controlo de dopagem da ADOP, este foi o meu primeiro contacto com o acompanhamento de equipas em competições nacionais e internacionais. Permitiu-me desenvolver capacidades de liderança, resolução de problemas e trabalho em ambiente competitivo. A colaboração direta com o Director de Departamento Médico da FPB também foi muito rica e sou-lhe muito grata por toda essa aprendizagem. Foi uma ótima oportunidade para apoiar o crescimento e o desenvolvimento de jovens talentosas no basquetebol e de colaborar no crescimento do desporto feminino em Portugal.

Acabou muito recentemente o diploma do Comité Olímpico Internacional. Como foi esta experiência?

Foi boa. O diploma foca muito a proteção da saúde do atleta de elite considerando todos os factores envolventes. Foram dois anos trabalhosos, mas muito gratificantes, uma vez que ao ser responsável pelo projecto olímpico no SLB colocava em campo o conhecimento apreendido frequentemente. Depois, perceber a organização, a estutura médica e toda a atividade clínica envolvente num jogos olímpicos é muito interessante. Finalmente, o Diploma COI proporciona acesso a um grupo de médicos de atletas / equipas olímpicas muito experientes, de reconhecido valor académico e líderes de opinião com os quais se pode partilhar dúvidas e experiências.

Finalmente, como prevê e o que deseja para o futuro da medicina desportiva em Portugal?

Eu prevejo que o futuro da MD em Portugal vá progressivamente melhorando se tiver o necessário investimento que necessita. Deve ser utilizada e valorizada no Sistema Nacional de Saúde, no sistema privado de saúde, assim como nos clubes e nas federações com a justa remuneração a ser proprocionada. Eu desejava maior reconhecimento e apoio à institucional à MD, com investimentos na investigação, educação e infraestruturas para promover a excelência nos cuidados de saúde dos atletas, assim como um foco maior na intervenção / prescrição de exercício físico para a população geral e populações especiais com patologia

BIBLIOGRAFIA
  1. www.indexrmp.pt
  2. Ver Entrevista na edição desta revista 2024, 14(4).