ENTREVISTA

Dr. Jorge Crespo

RMD Setembro 2023

Dr. Jorge Crespo

Diretor e editor do ÍndexRMP, Médico Internista (AH Graduado Sénior CHUC)

O Dr. Jorge Crespo define-se como um médico aposentado, mas não reformado. Como tem sido a sua atividade médica?

Muito obrigado pelo convite para esta entrevista, que entendo como uma oportunidade para divulgar esta minha carolice, já com mais 30 anos de existência, que é o Índex das Revistas Médicas Portuguesas (ÍndexRMP). Estou, de facto, já aposentado das minhas funções de assistente hospitalar graduado sénior, no Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra, onde trabalhei nos últimos 35 anos da minha vida, nas áreas mais diversificadas, de que destaco a da autoimunidade.

Na parte final fui também diretor de uma estrutura de carácter departamental que incluía os serviços de Medicina Interna, Oncologia, Endocrinologia, Hematologia e Reumatologia. No entanto, não me considero reformado da minha atividade médica, tanto a nível pessoal, como na dedicação a esta base de dados da literatura médica exclusivamente nacional.

… mas o ÍndexRMP é a sua grande paixão…

Sim, posso considerá-lo como tal. O ÍndexRMP1 é a única base de dados que reúne todas as publicações médicas ou de áreas relacionadas com a saúde, editadas em Portugal desde 1992. Nenhuma lá falta de qualquer especialidade médica ou área afim. Todas as semanas acres- centamos artigos, quer por via de importação direta dos seus metada- dos, quer por transposição dos dados dos seus PDFs, quer ainda por scan das revistas que nos chegam apenas em papel. Enquanto editor-chefe da base, validando tudo quanto é intro- duzido, isto coloca-me numa posição muito agradável de ver passar à minha frente tudo quanto se publica em Portugal.

Como conhecedor profundo da atividade editorial médica, como caracteriza a sua evolução?

Desde 1992, data do início desta coletânea, temos introduzidas mais de 200 revistas. Algumas já desapareceram, outras mantêm-se, tendo mudado apenas de nome, e muitas mantêm uma meritória continuidade editorial, com excelente conteúdo científico que as faz incluir em bases de dados internacionais.

Os médicos ainda gostam de investigar, escrever e publicar?

Os médicos têm absoluta necessidade de o fazer, pois são atividades fundamentais para os seus currículos concursais e de progressão nas carreiras. Muito em particular para os que seguem carreiras académicas persiste o famoso aforismo publish or perish. No entanto, quando procuram referências bibliográficas para os concretizar, vão habitualmente buscá-las a bases de dados internacionais onde estão apenas algumas das nossas melhores revistas nacionais, mas nunca todas, como acontece com as que temos no ÍndexRMP. Isto faz com que não incluam bons trabalhos publicados entre nós, só que provenientes de especialidades diferentes das suas. Simultaneamente, a ausência destas referências em nada ajuda o fator de impacto das revistas ignoradas.

Desde janeiro de 2010 que acompanha a publicação desta Revista. Já são quase 14 anos. Qual a sua opinião sobre a Revista?

A Revista de Medicina Desportiva Informa é a única desta especialidade que atualmente se publica em Portugal. Temo-la incluída desde o seu primeiríssimo número de 2010. O trabalho desenvolvido pelo seu diretor, Dr. Basil Ribeiro, tem sido fundamental para que ela mantenha a presença de artigos de grande qualidade, com uma periodicidade regular e sem atrasos, coisa que algumas revistas de importantes sociedades médicas não conseguem. Simultaneamente, sei bem das dificuldades de manutenção financeira de uma revista como esta, o que só acrescenta valor à sua direção. No passado esta especialidade contou já com outras revistas entretanto desaparecidas, das quais destaco a Revista Portuguesa de Medicina Desportiva, nascida pela mão entusiasta do Dr. Manuel Martins2 em 1982. Temos também indexadas outras de bem menor duração, como a Investigação Médico-Desportiva e o Jornal de Reabilitação e Traumatologia do Desporto.

Que conselhos nos dá, não só à Revista, como também aos seus leitores e potenciais assinantes?

A manutenção de uma revista médica é um trabalho de grande dedicação e empenho. Tem de contar com uma equipa editorial motivada para que ela se mantenha, capaz de recrutar artigos originais, de revisão sistemática ou meta-análises, bem como casos clínicos, entrevistas e cartas ao diretor, para citar apenas os mais importantes. Tudo isto tem sido conseguido por esta revista graças à liderança já citada e apesar das dificuldades referidas.

O que eu não compreendo é que a importante Sociedade Portuguesa de Medicina Desportiva (SPMD) não dis- ponha de uma revista própria como é apanágio das mais diversas sociedades médicas nacionais, assumindo-a como órgão de divulgação dos temas em destaque na sua área e do bom trabalho dos seus associados. Simultaneamente, poderia recrutar os trabalhos mais premiados nos eventos e congressos que promove, tornando-os em artigos de grande interesse, divulgando inovações na sua área, e destacando o seu conteúdo e o dos seus autores na comunidade científica nacional e internacional.

Deixo aqui este desafio à direção da SPMD e ao corpo editorial da Revista Medicina Desportiva informa no sentido de apreciarem a possibilidade de transformar esta num órgão daquela, como ponto de partida para voos editoriais de bem maior dimensão e divulgação, como esta especialidade merece.

BIBLIOGRAFIA
  1. www.indexrmp.pt
  2. Ver Entrevista na edição desta revista 2023, 14(4).