ENTREVISTA
Dr. Eduardo Filipe Coelho
RMD Março 2024

Dr. Eduardo Filipe Coelho
Medicina Desportiva. Sporting Clube de Braga
Porto
Foi um excelente jogador de andebol, também da seleção nacional, e agora está no futebol. Por que o futebol?
Sim, agora no futebol, tendo passado previamente por departamentos médicos de outras modalidades, inclusivamente coordenei o departamento de saúde no Dragão Caixa, passei pela Federação Portuguesa de Andebol, futebol juvenil do Futebol Clube do Porto e dei também apoio em desportos individuais. Entretanto surgiu o convite para coordenação clínica da Cidade Desportiva do S C Braga, um projeto ambicioso, com condições únicas, que aceitei com grande motivação e no qual me mantenho desde 2017.
Tem-se dedicado ao futebol de formação no clube. Qual o entusiasmo?
Na Cidade Desportiva temos a oportunidade de ver os talentos a crescerem, inclusivamente a tornarem-se profissionais (equipa sub-23 e equipa B) e, por vezes, transitarem para a equipa principal sénior, algo que no clube tem um significado muito importante e é com muito agrado que vejo os miúdos a chegarem lá acima e darem o seu contributo na equipa A, conseguirem ser internacionais e, ainda, com uma formação humana exemplar. É isto que nos motiva diariamente.
… e o futebol jovem tem sido bem apoiado?
No meu caso digo que sim, sim ao nível do S C Braga o apoio é total, as condições na Cidade Desportiva são de referência internacional, inclusivamente recebemos muitas comitivas internacionais que nos vêm visitar. Aqui nenhum detalhe é esquecido e existe uma enorme ambição de crescer. As nossas solicitações são por norma valorizadas e o crescimento tem sido continuo e sustentado.
Trabalhar com jovens acarreta certamente mais envolvência emocional. Como tem gerido a relação com os jovens jogadores?
Na formação vemos sempre os atletas como uns meninos e existe um sentido paternalista, e porque também passei pelos balneários sei que devemos muitas vezes conter as emoções e não sobrevalorizar todas as queixas de forma a que tenham a noção que o crescimento acontece na adversidade e que as conquistas devem ser diárias. Acabamos por ter sempre ligações fortes com os nossos jovens jogadores e custa vê-los partir para outros clubes, mas as relações ficam e os contatos perduram.
A maior envolvência competitiva tem estado associada a maior número de lesões?
Sim, sabemos com o aumento do número de jogos e o menor tempo de recuperação o risco de lesão aumenta. De ano para ano as competições têm vindo a ser cada vez mais exigentes, sendo que este ano temos jogadores que estão a competir na equipa de sub-23, Youth League e alguns também com as seleções, mas felizmente existem condições para dar suporte a este nível de exigência de forma a minimizar o impacto.
O que acha fundamental no acompanhamento do jovem futebolista?
O jovem futebolista, como jovem que é, está numa fase de formação e, como tal, tem de aprender interpretar o seu corpo, a saber como reagir em cada momento de stress, quer físico, quer emocional. Nesta fase é fundamental que aprendam a alimentar-se corretamente, a dormir bem, a gerir as mazelas e a ter a noção da gravidade das suas queixas. Para isso é preciso saber comunicar correta e atempadamente com os vários departamentos que lhes dão suport e, para tal, temos uma equipa multidisciplinar (nutrição, psicologia, podologia, optometria, fisiologia, fisioterapia, enfermagem e medicina). A aprendizagem escolar é também crucial para o seu futuro e para poderem ter rentabilidade, tanto no desporto, como na escola, têm de ser muito organizados e excelentes gestores do seu tempo. No seu processo de aprendizagem o binômio lazer / trabalho está presente e o equilíbrio é fundamental para que a motivação e a alegria possam estar presentes no seu dia a dia.
Qual o seu futuro? Será sempre no futebol de formação ou tem outras ambições?
De momento estou confortável e motivado para continuar a dar o meu contributo na formação ou no profissional sempre e quando me identifique com os objetivos propostos.


BIBLIOGRAFIA
- www.indexrmp.pt
- Ver Entrevista na edição desta revista 2024, 14(4).