ENTREVISTA

Dr. Diogo Rodrigues Gomes

RMD Maio 2023

Dr. Diogo Rodrigues Gomes

Médico de equipa do futebol profissional Health & Performance Department – Sport Lisboa e Benfica

Antes de mais, parabéns pelo cargo que ocupa. Como é que um jovem médico, competente e aparentemente desconhecido, se torna no médico da equipa de futebol principal do Sport Lisboa e Benfica?

Sou um jovem médico, especialista em Medicina Física e de Reabilitação (MFR), mas desde muito cedo iniciei também a minha atividade ligada à Medicina Desportiva, mais especificamente à Medicina do Futebol. O meu percurso durante o internato médico em MFR, complementado com a Pós-Graduação em Medicina Desportiva, assim como a atividade desenvolvida na Medicina do Futebol, permitiu-me adquirir competências e experiências muito específicas para exercer a minha prática clínica e integrar recentemente o departamento médico do Sport Lisboa e Benfica (SLB).

O percurso na Medicina do Futebol foi iniciado há 8 anos, com passagem pelos departamentos médicos do Futebol Clube Paços de Ferreira, Sporting Clube de Braga e Futebol Clube de Famalicão. Neste último, assumi a direção clínica e procurei organizar o departamento médico com as diferentes valências que julgo fundamentais neste nível competitivo. Esta experiência contribuiu para atenuar a transição para o meu cargo atual no SLB, um clube de dimensão e objetivos desportivos diferentes.

Durante este período, sempre direcionei a minha formação para a reabilitação musculosquelética, reabilitação de lesões desportivas e aquisição de competências como médico de equipa. Segui alguns modelos nacionais e tive passagem internacional em Barcelona, Dublin e Copenhaga, que me permitiram moldar a minha visão relativamente à abordagem das principais lesões desportivas. Considero ter sido este percurso, de muito investimento profissional e pessoal, que me trouxe até ao meu cargo atual.

A mudança para um clube da dimensão do Sport Lisboa e Benfica foi um ato de coragem e um enorme desafio? Foi difícil dar este passo?

O meu percurso na Medicina do Futebol foi progressivo, com funções sucessivamente de maior responsabilidade e desenvolvimento de competências técnico-científicas, soft skills e de relacionamento interpessoal importantes nesta atividade. Assim, não olho para esta mudança como um ato de coragem. Diria que foi um desafio, mas também um passo natural no meu percurso, relacionado com a oportunidade e os objetivos pessoais.

Quais são as grandes diferenças que encontrou?

Desde logo, trata-se de um clube com dimensão mundial e com objetivos desportivos completamente diferentes dos contextos anteriores nos quais tinha trabalhado. Esse aspecto reflete-se nos vários departamentos que integram o clube e que funcionam no suporte à equipa de futebol profissional. O Health & Performance Department (HPD) engloba uma equipa com diferentes grupos profissionais e diferentes valências, tendo como principais objetivos manter os atletas saudáveis, no máximo potencial das suas capacidades e disponíveis para a competição. De facto, a principal diferença sentida no trabalho diário, está relacionada com a maior densidade competitiva, em que as estratégias de recuperação assumem, ainda, um papel mais importante, uma vez que é fundamental manter os atletas prontos para competição, que habitualmente acontece a cada três dias.

Quais são os recursos humanos numa equipa tão grande?

Neste clube integram o HPD médicos, fisioterapeutas, enfermeiros, nutricionistas, preparadores físicos, psicólogos e sports data scientists. Existe ainda uma equipa de apoio diário permanente, nomeadamente, elementos do departamento de operações e apoio ao atleta, informáticos, analistas, administrativos, entre outros. Dispomos ainda de uma parceria, ao nível de serviços de saúde, com o Hospital da Luz. Dentro deste departamento, a partilha de competências, caráter e valores, mentalidade e cumplicidade é assumida por todos e, em conjunto, personalizam a cultura de excelência e exigência, que caracteriza o SLB.

O relacionamento com os jogadores e equipa técnica atual tem sido naturalmente tranquilo…

Sim… sabemos que dentro de um clube de futebol é necessário haver confiança entre os vários departamentos e, nesse ponto, a comunicação e o relacionamento entre todos os elementos assumem um papel importante. Naturalmente que a partilha de informação, seja dentro do próprio HPD ou com outros departamentos, deve ser baseada na transparência. Com a atual equipa técnica e conjunto de jogadores não tem sido diferente.

Nesta área, não poderíamos deixar de falar da atualização científica. Quais são as preocupações dentro de um departamento médico neste nível competitivo? O que têm publicado e organizado?

Tal como nas restantes áreas médicas, a Medicina do Futebol tem de apresentar suporte e fundamentação científica. É nosso dever manter atualização constante e conseguir fazer a transferência da teoria para a prática clínica. Atualmente, a quantidade de informação disponibilizada é colossal, o que torna esta tarefa desafiante. Ainda assim, dentro do departamento reunimos grupos de trabalho, constituídos por profissionais das diferentes áreas, para revisão constante das diversas metodologias aplicadas no clube, para que o nosso funcionamento esteja dentro e, algumas matérias, ditar o estado da arte. Procuramos, não só fazer publicações internas, como protocolos de atuação e infográficos, mas também marcar presença em reuniões clínico-científicas e com publicações em revistas conceituadas. Aproveito, para divulgar o nosso congresso que abordará os hot-topics em medicina, fisioterapia, sports science, nutrição e psicologia no desporto – Sport Lisboa e Benfica Health & Performance Congress, a realizar nos dias 11 e 12 de Setembro de 2023.