ENTREVISTA

Dr. Alexandre Rebelo Marques

RMD Novembro 2022

Dr. Alexandre Rebelo Marques

Faculdade de Medicina, Universidade de Coimbra; Clínica Espregueira, FIFA Medical Centre of Excellence, Porto; Magismed Innovation Institute, Braga

É o Presidente do Congresso de Medicina Desportiva, que foi adiado para 2023. Quais foram as razões?

Ser Presidente de um Congresso Nacional é uma responsabilidade enorme, além de ser um grande desafio e uma grande honra, pelo que fico muito agradecido à Sociedade Portuguesa de Medicina Desportiva e, em particular, à sua Presidente, a Prof. Dra. Maria João Cascais.
O adiamento foi motivado pelo rigor do nosso compromisso para com palestrantes, patrocinadores e todos os envolvidos. Enquanto Presidente da Comissão Organizadora do XVII Congresso de Medicina Desportiva, depois da auscultação de todos os intervenientes, concluí que, por várias razões, desde a coincidência com o Congresso Nacional da Ordem dos Médicos, à menor adesão do que em anos anteriores, esta era a decisão mais responsável. Aos palestrantes, aos patrocinadores, a Leiria, aos colaboradores e a todos os participantes, deixo o nosso obrigado pelo voto de confiança. Estou certo de que os workshops serão muitíssimo bem aproveitados e que regressaremos mais fortes no próximo ano (data ainda a anunciar).

Contudo, mantiveram-se os workshops. Porquê?

Sim, pelo mesmo motivo. Pela gratificante procura, iremos manter o programa dos workshops no dia 10 de novembro. Respeitando, também e assim, a cidade de Leiria, a Cidade Europeia do Desporto, que nos acolheu sem hesitação e de braços abertos

Quais eram os principais objetivos e destaques?

Hoje e amanhã, os objetivos devem manter-se. Na Medicina Desportiva falamos de Atividade Física, Exercício Físico e Desporto. Parecem conceitos iguais e muitas vezes são descritos como sinónimos em muita literatura geral, mas têm âmbitos completamente distintos. Enquanto Congresso Nacional, não podemos descurar nenhum deles, mas, como referido anteriormente, o objetivo inicial passa por promover o diálogo entre sociedades científicas, o Estado e os profissionais de saúde de modo a debaterem o verdadeiro papel da atividade e do exercício físico na sociedade portuguesa. Parece uma coisa simples e banal, mas onde muito pouco foi feito até agora.

No programa nota-se a preocupação de realçar a medicina desportiva como promotora do exercício físico para a promoção da saúde…ou seja, o Ministério da Saúde deveria aproveitar melhor esta especialidade? Se sim, de que forma?

Essa é a questão de um milhão de euros… certamente haverá várias visões diferentes entre as partes, umas mais financeiras, outras mais científicas e ainda outras mais logísticas.
A DGS, nomeadamente o Programa Nacional para a Atividade Física, tem tentado olhar para isso, mas ainda sem grande impacto (embora estejam num ótimo caminho).
A minha opinião é que não há dúvidas de que o Ministério da Saúde e o Sistema Nacional de Saúde têm, obrigatoriamente, de olhar para o papel desta especialidade médica de maneira diferente. Falamos em Medicina Desportiva e só nos ocorre os grandes atletas, grandes clubes e o estrelato… Mas não: cerca de 2/3 da especialidade não é isso! A promoção de saúde e a prevenção de doença são primordiais na sustentabilidade da saúde em Portugal e o exercício é parte integral desse processo.

Quem poderá participar no Congresso em 2023?

Como não descuramos nenhum pilar da Medicina Desportiva, diria que todos os profissionais de saúde ligados ao bem-estar físico, mental e social podem e devem participar. Nestes incluem-se médicos das diferentes especialidades, fisioterapeutas, enfermeiros, osteopatas, técnicos de saúde, alunos, decisores políticos, entre outros. Estão todos convidados para estarem presentes.

E o programa social e de convívio entre os participantes?

No meio de tanta adversidade e depois de tanto tempo, rever amigos, colegas ou simplesmente outras pessoas presencialmente para poder conversar, partilhar ideias e projetos, será um excelente add-on. No fundo, somos seres humanos e latinos. Gostamos disso. Portanto, podem contar que haverá certamente tempo para networking e algum descanso no meio, e depois, da ciência.

Indique algumas razões pelas quais deveremos participar no próximo Congresso.

A minha principal mensagem é que participem. Inscrevam-se, venham, partilhem ideias, partilhem experiências, tragam espírito crítico e diferentes ângulos de visão. Vamos discutir e aprender uns com os outros. Estamos todos juntos num mundo cada vez mais feroz, cada vez mais difícil e só uma Medicina Desportiva unida conseguirá delinear um caminho próspero, que trará certamente muita coisa boa para nós portugueses, para o SNS e para Portugal. Precisamos muito disso, precisamos muito de todos.

Quando voltar, que ideias novas nos trará e que possam ser implementadas no futebol português?

A nível organizacional, apesar de alguns defeitos, o modelo é interessante e tem pontos fortes com vantagens para clubes e atletas. Seria interessante tentar replicar, especialmente nas camadas jovens onde se sente maior dificuldade no apoio médico. Globalmente, este contacto com profissionais de excelência com experiências tão distintas tem sido uma oportunidade de aprendizagem muito enriquecedora que seguramente me ajudará a tornar um melhor profissional.